José Dirceu
Jornal do Brasil - 1º de outubro de 2009
1) "A rejeição de Dilma ter chegado a 40% significa que ela anda para trás. Possivelmente foi o episódio da Receita (Federal, quando a secretária Lina Vieira declarou que ouviu da ministra pedido para apressar investigação em torno da família Sarney)".
2) "Quem estava na frente (um ano antes nas pesquisas) venceu. FHC em 1997, Lula em 2001 e Lula em 2005 exatamente neste período. Não é uma regra, mas hoje é difícil mudar. É preciso fato muito forte para mudar. Dilma não é um fato forte".
3) "A questão é se a população quer mais quatro anos de PT sem Lula".
4) "O PSDB não vai contra o Bolsa Família. A classe média aumentou e muitos saíram da pobreza, mas os ganhos não vão para o PT".
5) "O Brasil estava fadado a crescer e a questão é quem vai atrapalhar. Bandeira do PT tem que ser de continuidade e a do PSDB de manutenção da política econômica que foi de estabilidade e talvez falar de reformas política e tributária. Ninguém vai brigar contra ninguém".
As declarações enumeradas acima, verdadeiras pérolas, são do botafoguense Carlos Augusto Montenegro, diretor do Ibope, que já deu vários chutões, sempre prevendo a eleição do governador paulista José Serra (PSDB) e a derrota da ministra Dilma Rousseff (PT).
E agora ele ataca de novo, desta vez de bicuda. E com o pé torto. Montenegro não deu tais declarações durante um jogo de futebol, como torcedor-corneteiro que fica atrás do banco de reservas a xingar o técnico, mas em uma entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada dia 23 de setembro sob o título Identificação ao PT derrota Dilma.
Aliás, o próprio título já é uma demonstração de que a entrevista guarda mais opiniões políticas do que uma análise da pesquisa propriamente dita. Bem, vamos à análise das declarações que destaco acima:
1) Montenegro faz questão de frisar a rejeição supostamente alta de Dilma, mas não diz que ela é conhecida apenas por 32% dos entrevistados, sendo o desconhecimento fator fundamental para elevar a rejeição. O presidente do Ibope não diz também que Serra tem 30% de rejeição, mas é conhecido por 66% do eleitorado. Logo, a rejeição consciente de Serra é superior à de Dilma. Ainda sobre Serra, não diz que ele também caiu nas intenções de voto. Nem abre a boca para registrar que Aécio tem 37% de rejeição. Montenegro parece esquecer-se de que alta rejeição é reflexo de desconhecimento sobre determinado candidato. E a campanha nem começou, o presidente Lula ainda não está em campanha com Dilma. Além de tudo isso, apenas 5% dos entrevistados pelo próprio Ibope que Montenegro preside disseram ter tomado conhecimento das declarações da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira sobre a ministra Dilma ter, supostamente, pedido informações sobre a situação do filho do presidente do Senado, José Sarney. Parece que o presidente do instituto não leu a própria pesquisa antes de dar a entrevista.
2) É claro que não existe regra alguma sobre um candidato que lidera as pesquisas um ano antes das eleições vir a ganhar a eleição. Isso é chute puro de Montenegro. Lula venceu em 2002 porque o governo e a coalizão que elegeu FHC se esgotaram. E porque nós tínhamos acúmulo de forças e fizemos alianças que nos garantiram a vitória. Também porque assumimos um compromisso com o país e o cumprimos. Logo, comparar 2002 com 2010 é um absurdo.
3) Lula e o governo são muito bem avaliados, ao contrário de FHC e de seu PSDB em 2002. Mas a maioria das respostas dadas durante a entrevista são posições políticas de Montenegro. Ou desejos. Dizer que o PT derrotará Dilma é esconder do eleitor que o PT foi o partido mais votado no Brasil para a Câmara dos Deputados em 2002 e 2006. É esconder que o PT é o preferido do eleitorado que tem opção ou faz opção partidária e, principalmente, que Dilma não é candidata do PT e sim de uma aliança de centro-esquerda e do presidente Lula. Não são mais quatro anos sem Lula. São mais quatro anos com Lula e o PT aliado a outros partidos.
4) Oficialmente, o PSDB jamais se disse contra o Bolsa Família. A cara de pau é tamanha que tenta agora até assumir sua paternidade. Mas programas sociais nunca foram o forte do PSDB. Basta ver o que o próprio Serra e depois seu demo-sucessor Gilberto Kassab fizeram com o Renda Mínima, implantado pelo PT na capital paulista: em quatro anos reduziram de 178 mil para 114 mil o número de famílias atendidas, um corte de 36%. De cada três famílias que recebiam o Renda Mínima, uma perdeu o benefício.
5) Dizer que o Brasil está fadado a crescer é abusar da inteligência alheia. O Brasil não cresceria e não crescerá sem a ação do governo. Sem as políticas adotadas pelo governo Lula antes, durante e depois da crise. Mas o que Montenegro afirma é exatamente o discurso da oposição, dos tucanos. Dizer que ninguém vai brigar com ninguém é mais um desejo de Montenegro, uma vez que durante esses seis anos e nove meses o PSDB e a oposição não fizeram outra coisa além de brigar. Tentaram de todos os modos desestabilizar e inviabilizar o governo Lula, chegando inclusive a se opor a todas as medidas adotadas para enfrentar a crise. Como agora se opõem ao marco regulatório do pré-sal, nosso passaporte para um futuro de mais riquezas e de uma distribuição mais igualitária dessas riquezas.